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Lua Negra, menstruação e a Dança Terrível


Muito é falado a respeito das deusas negras, como Hécate, Morrighan, Ereshkigal e Kali, muito se vê nos cultos neo-pagãos, altares erigidos as deusas de face negra, mas o que de fato elas ensinam para nós mulheres?

Kali é a uma das dez Mahavidyas, as dez shaktis primordias, ou as dez faces de poder supremo. Sua característica principal é a da destruição: ela vem numa dança frenética destruindo todos os demônios e bebendo seu sangue, até que Shiva permite-a dançar sobre seu corpo – consciência inerte. Kali é terrível, implacável, frenética, destruidora, poderosa. Seu corpo está nu, a não ser pelos crânios e parte humanas que ela leva penduradas. Sua língua está pra fora, aterrorizando e engolindo todos os restos dos demônios. Sua feição é violenta, pronta para ceifar tudo o que não está mais em sintonia. Kali fora de controle tem o poder de destruir todo o universo.

Nós mulheres sabemos bem que não somos sempre doces, amáveis, generosas e maternais, essa máscara feminina é sustentada pelo patriarcado como forma de nos manter sob controle. A mulher deve sempre sorrir, manter as aparências, do contrário é louca, ou está com os hormônios descontrolados. E esse medo do outro aspecto feminino é o que nos mantêm sob controle. Mas o que devemos temer?

Nosso lado escuro nos permite fazer uma verdadeira faxina interna: assim como Kali, durante nosso período negro – menstrual - rodopiamos numa dança interna em busca de nossos ossos e restos que não servem mais, que precisam ser limpos. Mergulhamos nas profundezas de nossa sombra de uma forma incrivelmente natural e damos de cara com todos os nossos monstros. Tomamos chá com eles, batemos um papo. Nossa TPM é a maior arma de autoconhecimento que temos, e foi justamente ela que a sociedade racional passou a medicar, e assim, controlar.

Desde que parei de tomar pílulas anticoncepcionais eu voltei a ter tensões pré-menstruais muito intensas (e até mais fortes do que antes), passei a ter a chave do meu portão interior novamente, e assim pude conhecer-me melhor. Essa jornada mensal que todas nós podemos fazer é o momento crucial de encontro do nosso poder: é através da encruzilhada que novas possibilidades surgem. É no momento da dança terrível de destruição que podemos ver bem na nossa frente o que deve ser destruído e o que deve ser criado. É no grotesco, no horrível, na dor e no grito que encontramos a renovação. É na morte que se desvenda o mistério da vida.

Por isso mulher, pare de romantizar sua menstruação! É ótimo plantar sua lua, mas isso não vai resolver todos os seus problemas. A dança da morte vai continuar e se você não a encarar agora e dançar com ela, no próximo mês ela volta ainda mais frenética. Colocar um sorriso no rosto e cantar o mantra Om pode até parecer bonito e te acalmar, mas a Negra continua a sua espreita.

Kali, apesar de toda aparência terrível e grotesca, é chamada de Mãe, e considerada uma mãe amável pelos seus fiéis. Ela destrói a ignorância da humanidade, dissolve o ego e levanta o véu da ilusão. Kali nos traz o que há de mais terrível no ser humano para nos ensinar que tudo que desejamos e tememos, é ilusão. E é depois dessa dança terrível que tudo o que é verdadeiro e firme se mantém.

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