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Sobre asas e brotos.

[Essa crônica foi escrita por mim em 15/07/2017 no blog https://medium.com/@gullveigaheidr, e resolvi transcrever aqui alguns textos com temática feminina para reunir tudo num mesmo endereço. O texto é de autoria própria, portanto respeite os direitos autorais]

A racionalidade sempre esteve presente em minha vida como uma sombra assustadora e opressiva. O mundo dos cálculos, das medidas, das áreas e frações! Essa fortaleza de concreto pré-fabricado, de escadas e muros altos, portas estreitas e janelas gradeadas! Senti que minha natureza nunca poderia acessa-la.

Era por demasiado criativa, perdida e iludida para atravessar as portas do grande salão da ciência! Deveria ter-me castrado, ressecado minhas intuições, sensações, minhas tendências ilusórias e pensamentos vagos. Deveria ter cortado a raiz dessa árvore torta! Os homens de minha família notaram tal desvio absurdo: “Esta não há de prosperar! Não aprendeu a ser estéril, egoísta e supérflua. Decerto será uma prostituta! Ou mesmo quem sabe, uma viciada. Mulheres não podem caminhar com as próprias pernas por um caminho diferente do nosso. Nós homens criamos o caminho correto, e estamos aqui para guia-las pela estrada da sabedoria! ”

A sabedoria! Condição de quem tem erudição e conhecimento, alguém que foi capaz de acumular muitos saberes e transformá-los em ferramentas e tesouras para cortar asas e podar árvores.

Estude! Mantenha a atenção! Aprenda, absorva, associe, repita, resolva, responda! Anote, lembre-se, prove, melhore, supere, orgulhe-se, ignore, desdenhe!

É interessante notar que as meninas nascem com uma vontade visceral de viver e criar. Nossas asas começam a brotar muito cedo e, imediatamente, nos enfiam uma boneca para cuidar ou livros úteis para aprendermos uma profissão. As crianças não são livres.

Nossa liberdade é trocada por uma posição importante, uma família de comercial, um carro quatro portas com ar condicionado, ou mesmo uma casa com piscina. Como uma flor exposta ao calor e sem umidade, nossa criatividade murcha e morre.

Ao notar essas ervas daninhas crescendo no meu jardim, eu tratei de arrancá-las, uma por uma.

Ao me ver como única planta do meu jardim, comecei a criar meu próprio mundo, como e com quem EU queria. Criar o próprio mundo é difícil, mas muito interessante. Você percebe que coisas muito maravilhosas podem te acontecer e, de repente, percebe que aquela fortaleza não era o único lugar para se estar. Gostaria que todas as mulheres pudessem ter a força para isso.

Esse não é um texto sobre mim. Talvez, mas talvez seja sobre você também.

Adrianna Perez.


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